Saúde

Pandemia pode contribuir com aumento dos casos de violência contra crianças

Momento atual de isolamento, associado ao estresse, tem se tornado estopim para conflitos familiares


Uma rotina atípica causada pela pandemia do coronavírus tem mudado o comportamento de todas as famílias, indiferente de classe social ou econômica. Cada dia tornou-se um novo desafio, cercado por insegurança, ansiedade e principalmente estresse. Estes fatores tem feito com que, em muitas famílias, os casos de violência contra crianças e adolescentes tenha aumentado.

Conforme explicam as profissionais da Secretaria de Assistência Social de Cunha Porã, psicóloga Any Schmitt e assistente social Nívea Campana, a busca por atendimentos não teve aumento significativo, porém entende-se que não é porque os casos não chegam até o setor, que não estejam acontecendo. Até porque a pandemia fez com que os casos de violência não sejam expostos, uma vez que a mudança de comportamento de crianças e adolescentes era notada na escola, e neste período não há ninguém observando.

Any ressalta que as vezes nem os próprios pais compreendem que o que estão fazendo é um tipo de violência. Principalmente quando se trata de violência psicológica ou moral. “Temos acompanhado que pais com filhos em período escolar têm tido dificuldades de ensinar, ou até mesmo somente acompanhar. A criança muitas vezes já não está afim de fazer as atividades, e aí começam os xingamentos e as humilhações, entrando na violência psicológica, que pode ter um efeito gigante no desenvolvimento desta criança”, cita.

Traumas permanentes

Nívea complementa que esse conflito vai refletir lá na adolescência ou já na fase adulta. “A maioria das pessoas acha que existe somente as violências física ou sexual. No entanto, a psicológica provoca traumas que, por vezes, vão perdurar pelo resto da vida”.

Para a psicóloga, é importante que as famílias façam o exercício de compreender que a pandemia fez com que todos estejam estressados, ansiosos e no limite, mas que é preciso diferenciar as coisas, e buscar estratégias para lidar com as frustrações. E não é descontando na criança, ou no próprio companheiro, que vai se chagar numa solução.

“O ser humano precisa parar, olhar-se e compreender-se, para assim dar um passo em direção a mudança. Se for preciso, busque ajuda, mas não caia num círculo vicioso de fazer todos os dias as mesmas coisas de forma equivocada”, avalia Nívea.

Any ainda complementa que a partir do momento que são compreendidas as emoções e identificadas de onde estão vindo estas reações, é um bom gatilho para entender que a criança não tem culpa. “Culturalmente nos ensinaram que é preciso trabalhar para dar uma vida melhor aos filhos. Mas o que temos visto são pais trabalhando para dar uma vida financeira melhor aos filhos, e talvez o segredo não seja o financeiro, mas sim a atenção, o parar para brincar com a criança. Embora saibamos que sim, precisamos de dinheiro para viver”, pondera a psicóloga.

Compreender-se para entender o outro

A assistente social ainda enfatiza que existe uma grande diferença entre educar, espancar e humilhar uma criança. “O ser humano hoje está vivendo em um mundo louco, mas as vezes é preciso parar para autocompreender-se. Um pouquinho que cada um mudar, já vai fazer uma grande diferença”, avalia Nívea.

Embora poucas pessoas tenham a coragem de denunciar a prática de algum tipo de violência, as profissionais enfatizam a importância destes atos, que são sempre sigilosos, e que contribuirão para que a equipe auxilie estas crianças ou adolescentes que estejam nesta situação de vulnerabilidade. Para aqueles que não queiram ir até a Secretaria de Assistência Social, ainda existe a possibilidade do Disque *100, cuja ligação é gratuita a qualquer hora do dia, e aciona toda rede de proteção às crianças e adolescentes.

 

Fonte: Oeste Notícias | Foto: Divulgação

Voltar

Precisamos utilizar cookies para coletar informações sobre sua navegação em nosso site e melhorar sua experiência. Visite nossa Página de Cookies para mais informações. Você aceita o uso de cookies?

Acompanhe nas redes